No balanço do coração...

Aventurava-se sobre a firmeza das palavras que escrevera anteriormente. Sonhador, seguiu rumo a um destino desconhecido, apenas acompanhado da sua mala e daquele sentimento que detinha dentro do peito. Livre, descrito como um pássaro livre há muito se tivera entregue ao amor, aquele amor distante que o compunha, que o fazia seguir naquela estrada até ao encontro de quem um dia o cativou.

Chamava-se Santiago, um nome com história, uma história de lutas e guerras em que os seus pais, devotos de um poder superior, fugiram contra tudo e todos para gerarem o que hoje é ele, este homem que vê no amor o mais poderoso poder que o ser humano pode possuir no seu interior. Desde pequeno se diferenciou, incompreendido por muitos, esquecido por outros tantos, formou-se como hoje é, acredita nas suas verdades e persegue os ideais daquilo que dá significado ao seu seguir. São horas despidas, dias compilados entre sol e a chuva que bate nas vidraças da sua casa à beira do mar.

Filho da terra, aquela terra que o viu crescer, pretendeu ir mais além, formar o seu conto de fantasia como aqueles que devorara em pequeno e que o prendiam em casa, somente ele, somente o seu olhar e a sua vontade. Formam anos a encontrar formulas que não existiam, guiões que não o faziam crer e até mesmo seguir os passos de outros amantes das palavras. Com o passar e com o amadurecer da sua alma viu que para amarmos temos de amar por nós, amar de verdade, sem enganos e desenganos, amar uma pessoa e não apenas amar o que dizem ser o melhor. Há que sabermos ver na vida aquilo que queremos e, quando o queremos de verdade, devemos viver, lutar pela pessoa, acreditar nela e nunca noutras tantas que não se contentam com a sua própria vida.

Assim ele cresceu, entre erros cometidos, histórias vividas ou aventuras passageiras, desembarca agora naquele riu de vontades, naquele pequeno momento em que se apercebe que se apaixona – A quantos pessoas não aconteceu isso? Quantas vezes não dás por ti a não querer amar já amando? – Quando se apercebeu disso, ele, apenas sorrio, voltou a sentir aquele sentimento disperso que o fez tremer, que fez o seu olhar brilhar.

Sabia que era a sua hora, que era aquele o seu momento tão esperado, tão aguardado. Sempre ouviu dizer que tudo tinha um momento certo mas agora, agora, acredita nessas palavras pré-feitas que tantos largam ao vento mesmo sem acreditar. O segredo, o segredo da vida está em acreditarmos nas vontades que temos, nos sonhos que sonhamos e naqueles amores que nos tiram as noites de sono.

Foi assim, assim ele correu atrás do seu grande amor e sabem quando isso aconteceu? Quando ele recebeu o sinal, um pequeno sinal que tem o dom de mudar qualquer dimensão, de formar um novo caminho onde antes parecia apenas existirem becos sem saída. Foi nesse instante, nessa fracção de segundos, que ele largou tudo e correu atrás do seu amor, por entre a Avenida 25 de Abril, por entre o Terreiro do Passo.

Era o colmatar de tanto, o sentir a imensidão dos sentimentos que nos cobrem o corpo e nos fazem vibrar em passos descompassados de vidas meio vividas. O nome dela era Maria, Maria ou então outro qualquer, mas o que interessava era o seu olhar, a pessoa que a formava, os valores que tinha herdado de uma família que lhe tivera ensinado o que era o amor.

Chegado à sua beira, quebrando o silêncio de tantos meses, de tantas palavras escritas e não ditas apenas a abraçou, num abraço intenso e sentido, num beijo dado e que tanta história tinha por contar. Entre palavras envergonhadas e explicações não encontradas ela pergunta-lhe:

- Desde quando é que este amor vive em ti, em mim, em nós?

Ele, segurando a sua mão, ainda tremendo como se a sua vida dependesse daquele momento, respondeu:

- Este amor viveu sempre em nós, residiu no nosso peito, por isso perdemos pessoas, quebramos histórias e o destino juntou, juntou-nos nesta vida incompleta e que hoje encontra o seu preenchimento total. Nunca haverá explicação para os amores, porque eles acontecem quando somos honestos connosco, quando vemos que mais importante que contar os dias é fazer com que os dias contem.

Foi nesse instante que o tanto que se tinha calado agora era vivido, que quando se quer, somos bem mais fortes que os fantasmas do medo, que as barreiras que construímos como muralhas que nos impelem de arriscar, de viver, de amar.

Ficaram naquele lugar, olhando o sol a beijar o rio Tejo, era a magia de um momento que parecia estar a ser sonhado, mas que deixara apenas de o ser para dar lugar à realidade de uma vida, ao início de uma história, ao comprovar que o tempo traz o que, humildemente, vamos semeando com as práticas e acções que vamos tento.

O dia acabou com uma frase escrita no chão, com um bilhete atirado ao rio e com um beijo que confessava um amor inigualável na sua forma, na sua constituição.


“Oceanos de verdades, quilómetros que nos separam, diferenças que nos compõem, tudo isso é nada, nada comparado com o amor que o nosso coração viu crescer. Se há palavra que nos forma essa palavra é e sempre será Verdade...”




Comentários

  1. Fantástico texto, fantástico momento vivido. Deixo-te uma música http://www.youtube.com/watch?v=oHKpXAPTVNU Abraço

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  2. Adorei a resposta à pergunta dela que vai de encontro a esta frase " O mais bonito em suas histórias, era a coisa mais simples: de alguma forma silenciosa e cheia de esperança, ambos esperavam um pelo outro, sem que nenhum pedido tivesse sido feito." ou então " Já era amor antes de ser."
    "Nunca haverá explicação" porque "o amor não é aquilo que queremos sentir, mas sim o que sentimos sem querer."
    Quanto ao que está a negrito, quando me falas em quilómetros fazes-me lembrar a seguinte frase: " a distância não é um obstáculo, mas sim uma bonita lembrança de como o amor verdadeiro pode ser forte."
    O principal mesmo é a verdade que reside no sentimento, tá lindo o que está a negrito.
    Olha está muito bom o texto, mesmo!
    Olha que não era mesmo mal pensado escreveres um livro como já te têm dito, acho que irias sair-te muito bem . :)

    Beijinho, boa noite :)

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