Selvagens...

Contornavam o corpo um do outro numa noite de paixão, suspiros silenciosos, sussurros confessantes, momentos insanes. Deixavam-se ir, no rasgar da roupa caída pelo chão, no meio daquele quarto, em cima daquele colchão. Guiados pelos dedos que pediam mais, os corpos entrelaçavam-se em actos carnais  de quem pedia um pouco, de quem pedia mais. Deixados nas horas, repletos de tanto, eram gestos e gemidos, proferidos, contido, sonhados, vividos. Olhares que se penetravam, na melodia daquela paixão, suores frios, tremores fugidios, sorrisos descontrolados, desejos saciados. Eram amantes num acto apenas deles, sob a luz da lua que passava por entre as vidraças da janela daquela casa, num lugar qualquer, numa história que os fez conhecer. Mordendo os lábios um do outro entregavam-se ao toque, a pele era apertada pelas mãos, pelos dedos que se contorciam na vontade de viver tudo num só sopro, num sopro de ar que saia pela boca deles, que se misturava no meio dos beijos roubados, desejosos de mais. Abraçados no meio daqueles lençóis de cor escarlate, depositavam a tesão de um tempo distante em que ambos se procuravam nos sonhos, em que agora se encontram para mais uma noite de prazer. Ouvia-se a respiração que formava a melodia entre o ficar e o pedir mais, tudo era esquecido, nada mais valia e o corpo pedia, o corpo tinha, o corpo implorava. Eram horas em segundos, apenas, mais uma vez contada até três, despidos ali, entre quatro paredes, num sentimento sem fim. A noite tinha caído há um tempo atrás, foi então que num ato voraz, ambos se confessaram como loucos, sem promessas, com piropos, os dois se deitaram, os dois se acariciaram. Abriram uma garrafa de vinho e, partilhando mais um pouco do seu destino, ali permaneceram entre conversas e diálogos de quem sabia que o amanhã ia ser dividido. Foi então que se despediram, vestiram a roupa e seguiram o seu caminho, no fundo eram selvagens, livres, mas sabiam muito bem onde encontrar a sua complementaridade, a conjunção de duas pessoas que formam nós, nós que não se desprendem...



Comentários

  1. Até os amantes mais selvagens terão, algures na vida, que estabelecer raízes :)

    Adorei ler-te! A falta de tempo afastou-me daqui mas vou tentar passar mais vezes por este espaço que eu tanto gosto!

    Beijinhos.

    ResponderEliminar
  2. "olhares que se penetravam", os olhos que tanto dizem...
    "sob a luz da lua", a lua, ela companhia tão desejada pelos verdadeiros amantes.
    a cor escarlate (a tua eleita :D)
    gosto dos detalhes :)
    Selvagens num amor seguro...porque são "nós que não se desprendem", gostei disso, porque a entrega só faz sentido quando sentimo-nos seguros com a pessoa.
    Agora fizeste-me lembrar de uma frase que eu acho engraçada "não partas corações, parte camas!" :D

    beijinho. :)

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigado pela visita Liliana, como sempre é muito bom aqui receber-te.

      Um beijinho :)

      Eliminar
  3. Olhares, toques, beijos, abraços, sentimentos e sempre muito amor, muito apaixonado. As tuas palavras puxam-nos para dentro delas, fazendo-nos sonhar, criando as nossas próprias histórias. É sempre muito bom passar por aqui e ler-te. Escreves muito bem, nunca deixes que as palavras desapareçam do teu coração nem do papel. Um beijinho de boa semana

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Se eu pudesse... trazia-te de novo à vida...

"Preciso de ti... de nós..."

"Voltar a acreditar... no amor."