“Resta Amar-te”
Passavam
cinco minutos da hora prometida, a rua estava deserta, o silêncio apoderava-se
daquela esquina iluminada, somente, por um antigo candeeiro de cor
verde-garrafa. A tempestade tivera passado, o caminho tivera sido seguido numa
intensidade voraz entre o tempo que era vivido e a partida, que se viu chegar,
num volte e face do destino, proclamado como superior. Os olhos perdiam-se nas
sombras que se esbatiam nas paredes quentes das traseiras daquela rua
principal, o coração disparava-se numa junção de recordações e desejos, tão
vivos num peito que explodia de amor.
Talvez os amantes só se revelem nas
horas tardias, nos secretos segredos dispostos ao olhar de dois, ao
desfasamento da vista de todos os outros.
Os
segundos passavam constantes, ele, segurando uma rosa na mão, esperava pelo
encontro que há tanto se via adiado. O passado era despido da pele que
mendigava mais, o risco era cometido, o beijo era pedido. Suspenso pelas pedras
da calçada, reparou que estas, há muito não eram limpas, a sujidade
apoderava-se daquele chão, daqueles desenhos irregulares que retratavam motivos
marinhos e odisseias vividas. Parecia que, por momentos, voltava-se atrás no
espaço temporal e, desembarcava-se, nas velhas ruas de Palermo, em pleno apogeu
da economia Siciliana.
Foi
então que, repentinamente, vê a sombra daquele ser numa das paredes pintadas de
cor escarlate, parecia que, agora, a história seguia para um presente tão real,
carnal, tal como as linhas que escrevia no erigir de um sonho expresso dentro
de si. Tudo era largado, as antigas concepções, os anseios e as tentações, os
medos infundados, o receio de amar. Entregou o seu corpo às balas, seguiu
naquele trilho iluminado e...terminou num beijo roubado.
Cheirava
a Primavera naquela rua apertada em que o espaço, não dava para mais que dois
corpos entrelaçados, entre beijos e abraços, entre uma vontade tão peculiar,
como aquela que ali era vivida, despida de tudo, entregue à vulnerabilidade do
sentir. No olhar, expressavam todo aquele desejo reprimido, todo o sentido que
a vontade delineava, nos traços pincelados pelo anseio de ficarem, pela
aspiração de não perderem cada momento de um tempo tão vivo, em ambos.
Existem amores que não são
escritos, descritos ou trovados. Esses amores são os sentidos, no olhar, no
toque da pele, no condensar do mundo em quatro mãos, em dois seres, num só
batimento cardíaco.
Foi
então que ele, irrompendo o silêncio, confessou o seu amor, ao ouvido, para que
nada se perdesse, para que tudo ganhasse outra intensidade. Amaram-se naquele
lugar, abstraindo-se do espaço, fazendo deles um eterno abraço em que, alimentaram-se,
formando uma felicidade baseada naquilo que eram e não no que foram.
Despediram-se
na nudez do seu próprio querer, sabiam que, por mais livres que fossem,
pertenciam um ou outro, no eufemismo do sentido, no minimalismo da acção, no
expressionismo da paixão que lhes corre nas veias. Prometeram voltar no dia
seguinte e, caso não chegassem, saberiam que as suas almas abeiravam-se,
naturalmente, porque, quando se fala de amor, não são precisos apenas corpos,
são precisos corações...corações que se queiram...
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