Dias desfocados pelo tempo...

Agarrei-me a um passado e ali fiquei, encostado àquela parede que uma vez foi branca, olhei as fotos que estavam coladas na parede, tudo estava diferente, a humidade descolava aquelas que uma vez foram coloridas, o sol já nem entrava pela janela e o cheiro já não era o mesmo. Desci as escadas de madeira que apenas rangiam pela idade e pelo passar do tempo, as flores estavam caídas no chão e a minha roupa já não era aquela que eu conhecia. Arrastei-me até a cozinha e onde antes havia alegria agora apenas existe pó e recordações que o meu coração não aguenta sentir, corri, abri a porta e passado todo aquele tempo vi de novo o sol, os meus olhos arderam, as minhas mãos sentiram calor e a minha roupa conseguiu secar toda a humidade de uma prisão em que toda aquela casa se transformou. Vi uma criança lá ao fundo num parque que nem sabia que existia, vi o sorriso dos pais, vi a alegria daquele momento e isso fez-me rir passado todo este tempo, pensei em partir mas aquela casa prendia-me e assim voltei a entrar, a televisão já não passava nada do que eu conhecia, a música era completamente diferente, as histórias desfocavam aquilo que eu acreditava, os sentimentos já não eram os mesmos e as caras apenas eram rostos desconhecidos e apagados pelo tempo. Voltei ao quarto, subi as escadas que já nem me lembrava quantas eram, sorri ao chegar lá em cima pois pensava que já não tinha força para lá chegar, abri de novo a porta daquele quarto, daquelas quatro paredes que me aprisionaram e voltei-me a sentar onde antes estava, vi as fotografias de novo, vi a luminosidade mas não os raios de sol, vi as aranhas a balouçar entre as enumeras teias que ali formaram e vi os rasgos de pó que se juntaram entre os livros e as almofadas que estavam em cima da cama. Foi apenas o tempo, o tempo que passou, foi apenas um desistir que me fez perder as horas, que me fez perder os minutos e que fizeram da minha vida uma própria prisão onde eu me prendi e deitei a chave fora. O importante mesmo não é estar preso o importante é nunca desistirmos de ter a nosso própria liberdade, os nosso próprios momentos, as nossas próprias lutas, as nossas próprias vidas. Fechei os olhos e ali adormeci de novo encostado a uma parede fria e com a roupa que antes era branca e agora já nem sei a cor que é...

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