Lisboa das folhas caídas pelo chão...
Caem as folhas no chão.
Da janela vejo as ruas desertas ao cair da noite - as pessoas sem alma, as avenidas despidas, um mar de solidão.
Mergulho em mais um copo de vinho
E engulo as lágrimas que teimam em caírem pelo rosto.
Ainda agora passou agosto...
E vejo que o inverno parece querer chegar mais cedo.
Enfrento o medo e vou até à janela
E respiro fundo o ar desta cidade de Lisboa.
São muitos os que têm medo do vírus e tantos outros que se esquecem que um dia podem padecer numa cama de hospital.
Os pássaros cantam lá fora
Enquanto as horas parecem demorar a passar...
A minha impaciência tolda-me o olhar
E faz-me duvidar de mim, do futuro e da humanidade.
Caem as primeiras folhas no chão
E os aviões - outrora sempre presentes - hoje passam lentamente,
Poucos,
Contrariando os quase nenhuns,
Que há poucos meses conseguia avistar.
A música toca e ecoa pela casa,
Estou farto de falar de amor, de sonhos e de esperança.
Deito-me no sofá e penso que nem sempre conseguimos o que tanto queremos.
Há dias em que temos de cair para nos aprendermos a levantar.
Há dias em que temos de ceder ao medo para que possamos enfrentar o desconhecido.
Mais uma vez...
Vejo que as primeiras folhas caem
E com elas vêm o outono,
Naquela mistura entre o encarnado e o cinzento,
Naquele tempo que nem é frio e que nem é quente.
Bebo mais um gole de vinho tinto e olho pela janela,
As sirenes das ambulâncias ecoam na cidade,
E eu...
Eu, do cimo de uma das suas colinas,
Vejo que, na minha simples pacatez,
Também sou feito de carne,
Também enfrento os meus fantasmas.
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