Não me leias com os olhos...
Nunca foram o toque e muito menos o
tempo que pedia para ficar. Eram desconhecidos, detentores de destinos que se
cruzavam, ao despontar de mais um Verão ou, até mesmo, em contactos diários que
se passavam naquela pequena terra. Tiveram crescido de forma diferente, com
outras pessoas, com outros sonhos, com outras prioridades. Ele aprendera a ser
um amante da vida, um ser que se entrega às correntes do mar que o arrastam,
que lhe mostram que é um alguém vivo, um alguém que sente. Ela, dela pouco se
sabe, uma rapariga de sorriso bonito, de olhar expressivo e de uma subtileza
que tivera impressionado aquele jovem rapaz. Os dias passaram, as horas
alteraram-se e, num segredo apenas seu, ele, agarrou-se aos livros que devorara
numa velocidade constante, movido pela vontade, pela ânsia de descobrir o que
era então o amor, o que se falava, quem encarnava aquelas belas histórias que
se habituara a ouvir desde pequeno. Nunca encontrou respostas, nunca achou significados
que sentisse seus, amores que se assemelhassem ao que se passava de forma
arrebatadora no seu peito. Tornou-se trovador, impulsionado pela sua sede de
sentir e, foi numa dessas suas aventuras em que pegava no caderno e escrevia o
que sentia, o que via, que se sentou mesmo de frente à janela do quarto daquela
jovem mulher que lhe roubara um dia a atenção. O silêncio apoderou-se de todo o
ambiente, a noite já tivera caído há umas boas horas e a rua parecia deserta.
Ouvindo o mar agitado permaneceu sentado, encostado a uma porta fria de alumínio,
sobre um amontoado de pedras gastas, pedras que tiveram sido aproveitadas para
dar vida a uma nova rua. Os únicos sons ouvidos eram o da sua respiração, o
batimento acelerado de um peito que tivera sentido em si paixão e, no meio de
sinais e da luz de um luar envergonhado ele rabiscou um simples bilhete.
Diziam-me
que se amava o belo, o eterno, o bonito.
Por
caminhos que percorri, por vidas que vivi e outras tantas que deixei por viver,
Aprendi
a amar o verdadeiro, não o belo, a amar o momento, não o eterno, a amar o
presente e não o bonito.
Quando
se ama pouco serve o nosso olhar, o que servem são as emoções, as que nos
percorrem o corpo, que nos aquecem a alma.
Mais
que tudo o que possa ser chamado de bonito, mais que uma obra de arte admirada,
para mim és o contorno do meu sorriso, e isso, isso faz-te bela, bela não aos
meus olhos, mas à minha sede de te amar...
Com a noite já gasta e o corpo já a
mostrar impaciência pelo frio sentido, ele partiu e, esquecendo-se no chão do
bilhete redigido, olhou para trás, pensando em voltar mas contrariando essa
vontade sabendo que um dia ela iria ler todas aquelas palavras, não com os
olhos, com o coração...
Essa tua encantadora delicadeza!
ResponderEliminarlindo como sempre :)
ResponderEliminarTão bonito...tão bonito, mesmo.
ResponderEliminarcomo dizia o “poeta” o essencial é invisível aos olhos, só se vê bem com o coração ;))
ResponderEliminarObrigada pela tua sempre inspiradora partilha*