Simplesmente...
Dedilhava o teu corpo como um piano
que em mim despertava vida, pousando o cigarro, beijei-te o pescoço,
calmamente, na melodia do jazz que emanava de um leitor de discos antigos. As escadas
eram de madeira e eu, pegando na tua mão, convidei-te a subires. Cheirava a
outono, a terra molhada pelas primeiras chuvas que batiam nas vidraças antigas
daquele pequeno chalet construído sobre as rochas íngremes de um lugar repleto
de mar. Sentia a tua pele junto da minha, as tuas mãos agarravam as minhas com
firmeza e, num sorriso envergonhado, olhaste-me revelando o que eras e não o
que os outros desconheciam em ti. Falava-se nas ruas desta vila que o amor das
gentes de cá não era amor de verdade, mas eu, eu como nunca fui um homem de
viver de outras palavras, descobri que em ti o amor não era uma passagem ou uma
aragem de pouca duração. Tu eras mais, tu és mais! Subimos o resto das escadas
que faltavam, o quarto ficava mesmo ali, num sótão de cor carmim e com um
ligeiro cheiro de baunilha silvestre. A cama tinha as tuas flores favoritas,
conhecia-te, conheço-te. Tinha ido ao mercado de manhã, a senhora da loja tivera
me dito que as tuas flores, nesta época não haviam, mas como eu nunca fui de
desistir, procurei, procurei-te no meio das pétalas por quilómetros que
percorri. Não sou perfeccionista ao ponto de querer a perfeição em tudo o que
faço ou desejo, o que eu gosto é de dar de mim e, se é para dar, que dê tudo,
tudo aquilo que me fazes sentir. Lentamente despi-te o casaco, sentia-te
trémula mas esse tremer misturava-se com o meu, qual o homem que não treme
perante um grande amor? Deitamo-nos naquela mesma cama com lençóis de linho e
uma colcha em que te aninhaste, ficamos ali horas, eternidades, contemplando a
vida, formando em nós história. Depois de tudo isso, e ouvindo as gotas a caírem
nas telhas, fechas-te os olhos, deitaste-te nos meus braços e eu, sorrindo, vi
que era um homem feliz...
"dedilhava", mágico
ResponderEliminarAdoro os detalhes...o cheiro a terra molhada, a cor do sotão, tão bem escolhida assim como o cheiro dele, adoro o cheiro a baunilha...as pétalas, um pormenor que adorei... o agarrar das mãos com firmeza que revela o amor intenso, o desejo de ambos, a união deles... um cenário perfeito...
ResponderEliminarO ambiente do sótão nada tinha a ver com o que se passava cá fora, onde o ambiente era quente...e o frio não se fazia sentir... era assim que eles se sentiam por dentro...ambos naquele chalet vivem um capitulo de uma história tão bonita...singular...ele é um aconchego perfeito...
Adoro a imagem, o encostar dos corpos é tão romântico e ao mesmo tempo tão sensual... texto perfeito :)
Muito Obrigado Liliana.
EliminarUm Beijinho e boa noite :)
Céus, que espanto!
ResponderEliminarSenti-me lendo uma história, daquelas de apertar os olhos num sorriso e aconchegar o coração. Lindo texto!
ResponderEliminarPalavras para que? =)
ResponderEliminarbeijoka