Partida...


Por momentos larga-se aquele lugar, o destino tornava-se turvo perante o olhar impávido de quem via o amor partir. Eram segredos revestidos, palavras mudas num silêncio inquebrável, esperas sem chegadas, chegadas que olvidavam um oceano de sonhos reais, um instante que se decompunha nos passos dados apenas a um. Chegara a hora de partir, de quebrar com os muros que entre aquelas duas almas existiam, um muro de tanto que em nada se revelava no olhar fugidio de dois pássaros livres. Quebra de página, a folha rasgou-se no impasse de quem não lutou, de quem nada deu esperando receber o que um homem sabe dar, amor. Ele sorriu, sorriu para a vida e, fechando a mão, agarrando junto a si todos os sonhos que tivera plantado naquele terreno infértil. “Não se desiste do amor somente porque ele não cresceu, não se desiste de acreditar porque uma história não se deu” – Dizia ele para ele mesmo. Na vida, há que saber dar mas, há que saber receber, saber entender, saber cuidar. Nada cresce, nada sobrevive na ausência de sentimento, na ausência de um coração que se fecha no seu próprio sentir, nas palavras mudas que ninguém entende. Chegou a hora, as músicas perderam-se, as confissões alteraram-se e ele, ele, foi embora deixando para trás o que poderia ser futuro, deixando naquele lugar todo um início que nem chegou a principiar. Palavras deitadas ao vento, vento que alimenta vontades, vontades tão verdadeiras que o impedem de desistir. De pequeno se fez homem, um homem com tantos sonhos no peito que o interpelavam a toda a hora, questionando, se as pessoas saberiam amar, se as pessoas saberiam ainda sonhar. Pobre e fraco o caminho caminhado por quem não dá de si, por quem passa ao lado da vida esperando um momento que não é nada mais do que uma utopia inalcançável, que se tarda em revelar. Amor, sempre o amor a traçar rumos, a reerguer sonhos e a reinventar capítulos. Nada somos sem ele mas, com ele, tão pouco, por vezes, sabemos ser. Assim foi, no meio de uma tempestade de sentimentos ele recolheu a âncora, fez-se ao caminho que tão bem conhecera e largou aquele lugar, largou aquela memória e a saudade nem chegou a abeirar-se do seu corpo. Somos formados de momentos e são eles que nos deixam saudade, então, se não vivermos não sabemos como seria, se não sabemos, logo, a saudade não é sentida e o sentimento acaba por desvanecer nas águas de uma nova rota. Quando se parte, parte-se para nunca mais voltar, e ele, assim o fez, seguiu o seu coração, ligou o GPS da sua vontade e voltou ao caminho descurando atalhos falaciosos de aventuras efémeras. Quem se sabe amar, ama o mundo, quem sabe o que é o amor, dá-o não o representa...

Burano, Italy

A verdade do teu coração é tua, a força vem do teu lutar, não partas querendo ficar e não deixes partir quem te sabe amar...




Comentários

  1. "há que saber cuidar...":) isso mesmo!

    ResponderEliminar
  2. Já pensaste que isso é assim de parte a parte?
    O amor próprio, as inseguranças, etc.. Que por vezes só mesmo NÓS próprios sabemos o que estamos a sentir e o quanto nos dói n o mostrar?

    ResponderEliminar
  3. "Somos formados de momentos e são eles que nos deixam saudade," se são! tu sabes o que tenho a dizer. obrigada ♥

    ResponderEliminar
  4. Gostei muito deste teu texto. Admiro a forma como escreves e como um texto sensivelmente grande me consegue prender até à ultima palavra. :) Parabéns.
    Um abraço.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares deste blogue

Se eu pudesse... trazia-te de novo à vida...

"Preciso de ti... de nós..."

"Voltar a acreditar... no amor."